Após três ciclos olímpicos distante da Olimpíada, a seleção feminina de vôlei do Quênia estará em Tóquio. A vaga foi conquistada com a vitória no torneio qualificatório continental em janeiro de 2020, em Camarões. E o comandante das atacantes da Rainha (alcunha do time do leste africano) será um personagem muito conhecido na modalidade no Brasil, Luizomar de Moura (técnico tricampeão da Superliga feminina, campeão mundial com o Osasco e juvenil e infanto-juvenil com a seleção brasileira).
Esta é uma oportunidade que surgiu por acaso, e que tomou proporções maiores do que o próprio treinador esperava. “Virou uma causa. O Quênia é um país ainda muito distante em termos de tradição quando se fala em vôlei. O forte deles é realmente o atletismo, as provas de fundo e meio fundo. E a Federação Internacional está com um projeto que foca desenvolver a modalidade em vários pontos ao redor do mundo. E um desses lugares é justamente o Quênia. Eles decidiram começar esse trabalho justamente por lá. Cheguei a Nairóbi em abril e fiquei dez dias por lá. Depois regressei para dois meses de treinos e fomos muito bem recebidos por todos. No início fiquei um pouco receoso, por chegarmos às vésperas dos Jogos. Não sabia como minha equipe e eu seríamos recebidos. Por isso, agora estamos focados de corpo e alma nessa causa. Queremos deixar um legado e espero que, no futuro, possamos falar do vôlei feminino do Quênia de uma forma diferente”, comentou Luizomar à Agência Brasil, direto de Fukuoka, na costa norte da ilha de Kyushu, no sudoeste do Japão.
Para o treinador, esse trabalho lembra um pouco o tempo que passou comandando as seleções de base do Brasil: “Estou vendo meninas com o sonho de se tornarem jogadoras de vôlei de grandes centros do esporte, assim como vi durante quase 15 anos da minha vida várias garotas vindas de diversos locais do Brasil buscando se tornarem jogadoras, em um primeiro momento, e depois defenderem a seleção em uma Olimpíada”. Um desejo que o próprio Luizomar revelou que também carregava: “Estou estreando em uma edição de Jogos Olímpicos. Isso é mais um capítulo especial dessa história toda. Mas não quero só passar por aqui. Quero deixar uma marca. Sei que a questão dos resultados, nesse momento, está um pouco distante para o nosso time, mas quero mostrar para o mundo do vôlei uma equipe mais organizada e com potencial de crescimento”.
Uma curiosidade é que o Quênia caiu, nos Jogos Olímpicos, em uma chave com Sérvia, Coreia do Sul, Japão, Brasil (do técnico Zé Roberto Guimarães) e República Dominicana (do também brasileiro Marcos Kwiek). “Marquinhos é meu contemporâneo. Jogamos juntos em alguns momentos. As nossas carreiras são parecidas. Ele está fazendo um trabalho excelente na República Dominicana há mais de 10 anos. O Brasil é um time excepcional, dispensa comentários, vai brigar por uma medalha. O grupo é difícil demais. A Sérvia é outra favorita a um ouro. A Coreia do Sul também tem um treinador conhecido, o italiano Stefano Lavarini, campeão da Superliga pelo Minas, e uma jogadora espetacular que é a Kim Yeon-koung. Ela carrega a equipe há algum tempo. Nós somos a zebra, mas é claro que se o pessoal der chance vamos querer beliscar um set aqui e outro ali. De repente, podemos ganhar um jogo. Enfim, sei lá. Se conseguirmos mais do que isso, vai ser espetacular. Vamos ficar extremamente felizes”, concluiu.
(Texto: Juliano Justo/Agência Brasil. Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV)