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A maratona dos renais crônicos para conseguirem dialisar e sobreviver
Saúde
Publicado em 19/08/2021

Toda terça, quinta-feira e sábado, Marcelo Moura acorda às 4h e enfrenta percurso de pelo menos 1h30 no transporte público até chegar à clínica conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) onde faz o tratamento de hemodiálise, em São Paulo (SP). Divorciado, morando sozinho e sem condições de trabalhar, ele ainda tem de conviver com a falta de medicamentos e a instabilidade do setor. “As autoridades não priorizam a diálise no Brasil, mas esse não é um tratamento que você pode ou não fazer. Se não fizer, a morte é a consequência. Se o governo realmente enxergasse a situação, daria suporte maior às clínicas, pagaria em dia, remuneraria melhor os profissionais da área”, desabafa. 

Antes de descobrir a Doença Renal Crônica (DRC), há 13 anos, a cadeirante e deficiente visual Marli dos Santos, de Araruna (PR), era muito ativa e trabalhava como cozinheira. Apesar de ser grata ao tratamento da diálise, que permitiu a ela conhecer as duas netas, Marli reconhece a dificuldade do dia a dia: “Não podemos ficar sem a diálise ou vamos morrer, mas as autoridades não são sensíveis a isso e a situação fica cada vez mais complicada. O tratamento garante nosso tempo de vida, queremos sobreviver”. No momento, ela aguarda o recebimento de uma cadeira de rodas mais confortável.

Gabriella de Melo Moreira Silva (foto), de Pernambuco, já nasceu com uma doença renal grave. Aos 10 anos, precisou fazer seu primeiro transplante, recebendo a doação de um rim da mãe. Quando completou 15 anos, perdeu o transplante. Fez um novo transplante e chegou a ficar mais de um ano com um novo rim transplantado, até que o corpo rejeitou novamente. Desde então, ela precisa dialisar três vezes por semana. Atualmente com 26 anos, Gabriella é graduada em nutrição, atua na área e busca na filha Ana, de seis meses, inspiração para compartilhar no perfil do Instagram @decidiviver sua luta e decisão diárias pela vida. 

O reajuste imediato de 46% no valor da sessão de hemodiálise da tabela do SUS pode garantir que esses três pacientes e outros 144 mil brasileiros continuem recebendo o tratamento da diálise com dignidade e qualidade assistencial. E esse é o mote do “Dia D da Diálise”, data que marca a luta por reivindicações e melhorias para o setor e que neste ano será comemorado em 26 de agosto. A iniciativa, liderada pela Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), busca o reequilíbrio financeiro e o pleno funcionamento das clínicas conveniadas ao SUS e que atendem 85% da população de renais crônicos. 

O último reajuste do Ministério da Saúde aconteceu em 2017, quando o reembolso da sessão de diálise passou de R$ 179,03 para R$ 194,20. Porém, este valor, que à época já era insuficiente e muito abaixo da inflação, hoje é insustentável, obrigando as clínicas a arcar com a diferença em cada sessão. Em 2016, a própria equipe técnica do Ministério da Saúde já havia calculado o custo da sessão da hemodiálise em R$ 219. A partir de cálculos de atualização dos custos, o valor que está sendo defendido junto ao MS é de R$ 285,45. Vale lembrar que a maior parte dos insumos para o tratamento são importados, tornando as clínicas reféns da variação da moeda estrangeira, cenário que se agravou com a pandemia da Covid-19. 

Sobre a ABCDT

A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) é uma entidade de classe que representa as clínicas de diálise de todo o país. Tem como principal objetivo zelar pelos direitos e interesses de seus associados, representando-os junto aos órgãos públicos, Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara Federal, Secretarias Estaduais e Municipais. Também representa as clínicas e defende seus interesses individuais e coletivos.

(Assessoria)

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