Jefferson Gabriel Domingues, diretor do Colégio Estadual Indígena Yvy Porã, na região norte do Paraná, tornou-se, nesta semana, o primeiro doutor indígena a defender uma tese em uma Instituição de Ensino Superior (IES) do Paraná. A defesa de doutorado do pesquisador, intelectual e gestor indígena da etnia Guarani Nhandewa ocorreu na última segunda-feira (16), no curso de doutorado em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE), que possui uma política de ação afirmativa em consonância com as orientações da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Intitulada “A construção de uma escola intercultural Guarani Nhandewa: ação comunitária e gestão indígena”, a tese, orientada pela professora Rosangela Célia Faustino, aborda o processo de construção de uma escola indígena intercultural e bilíngue feita pelos próprios indígenas, contando com os etnoconhecimentos e epistemologias da ancestralidade indígena. Segundo Jefferson Gabriel, “O desafio foi construir, com autonomia e protagonismo, uma escola que atenda aos anseios da nossa comunidade, das nossas práticas de sustentabilidade, fortalecendo a identidade indígena dos jovens e das crianças Guarani e, ao mesmo tempo, seja uma escola de qualidade, ensinando a ciência universal de forma humanizada e emancipadora.”
Conforme a orientadora da pesquisa, “a trajetória para a formação de mestres e doutores indígenas no Brasil não é fácil. Foi apenas após a Constituição de 1988, que garantiu o direito à cidadania aos povos indígenas (com essa lei puderam ter documentos como carteira de identidade e CPF, que não tinham antes por serem tutelados), que tivemos as políticas públicas de ingresso no ensino superior, conquistadas pelos movimentos sociais indígenas. Agora tem sido possível ouvirmos as potentes vozes indígenas nas academias, com trabalhos científicos de alto nível, como é uma tese de doutorado que confere o maior grau proferido por uma universidade.”
Nesse sentido, conforme Faustino, “a UEM se orgulha de ter sido a primeira IES no Paraná a formar um doutor indígena, em 2024, e por ter formado também o primeiro mestre indígena no Paraná, o professor Kaingang Florêncio Rekayg Fernandes, da Terra Indígena Rio das Cobras, que defendeu seu mestrado no PPE em 2016.”
“Essas ações consolidam o compromisso da UEM com a formação de qualidade para todas as pessoas, por meio de uma formação profissional que atende à política educacional atual e aos objetivos de articulação do ensino superior com a educação básica, consolidando o impacto social de nossa IES na região”, salienta a orientadora.
Apoio
Os universitários indígenas da UEM, das universidades estaduais paranaenses e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebem apoio permanente da Comissão Universidade para os Índios (Cuia), desde antes do processo seletivo, realizado anualmente, até a formatura.
Sob a coordenação da professora Maria Christine Berdusco Menezes, a Cuia cuida do processo de ingresso e inclusão dos estudantes indígenas, além de realizar o acompanhamento didático-pedagógico.
Além da Cuia, a universidade possui o Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história (LAEE), o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Escolar e Superior Indígena no Paraná, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, Formação de Professores, Ação Docente e Educação Escolar Indígena, e a Associação dos Universitários Indígenas (Auind).
Essas instâncias desenvolvem projetos voltados à educação escolar e superior junto às comunidades indígenas no Paraná, como o Indígenas na Web, elaborado por professores do curso de Letras e coordenado pela professora Isabel Cristina Rodrigues, também da Cuia.
Além de oferecer vagas todos os anos por meio do Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, a UEM oferece, em alguns programas de pós-graduação, sistemas de cotas como política de permanência.
(Paulo Pupim/UEM)