Publicado em 13/03/2025 por Administrador
A Doença Renal Crônica (DRC) é uma realidade para mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. Com muitos pacientes atendidos pelo SUS, geralmente vem associada a fatores como diabetes e hipertensão, bastante comuns na população brasileira e que acometem uma parcela considerável de pessoas com baixo poder aquisitivo. Eles têm dificuldades para conseguir tratamentos acessíveis, muitas vezes moram em cidades pequenas e sofrem com falta de estrutura e uma equipe multiprofissional disponível.
Valdomiro Francisco da Silva recebeu um transplante de rim em 1995 e, desde então, faz o tratamento com o uso de imunossupressores. Desde 2010, sai da cidade vizinha de Paiçandu para participar do projeto de Extensão “Atenção odontológica a pacientes pré e pós-transplantados renais”, coordenado pela professora Neli Pieralisi, do Departamento de Odontologia (DOD) da UEM. “Ganhar um rim foi como um presente, então, tenho que cuidar”, pontua o paciente, que há 14 anos compreendeu que a saúde bucal é importantíssima para um transplantado.
No projeto, que funciona às terças-feiras, no Departamento de Odontologia (DOD) da UEM, Valdomiro recebe o acompanhamento de estudantes de graduação e residentes de Odontologia, inclusive de voluntários. “Meu rim hoje está ok, mas eu tenho baixa imunidade e tomo 24 comprimidos ao dia. Esse cuidado é para o resto da vida”, salienta o paciente, que, aliás, é um assíduo participante do projeto. “Eu venho sempre, agora de três em três meses. No início, era quinzenalmente”, explica.
Valdomiro, hoje com 60 anos, considera que ficaria “à mercê” se o projeto não existisse. “No início, eles (o projeto) precisavam de mim e eu, deles, então foi muito positivo. As pessoas não têm condições de ir a um dentista. Aqui, aliás, eles avaliam tudo: o palato, cavidades… É de grande valia para tudo o que eu preciso, dos diagnósticos às biopsias”. O paciente teve manifestações de câncer de boca quatro vezes e sempre retorna para manutenção do tratamento. “Em todas as vezes, o diagnóstico foi precoce e não precisei fazer quimioterapia nem nada.”
Atenção aos pacientes
Os principais objetivos que moveram a professora Neli Pieralisi a começar o projeto, em 2009, foram os mesmos que levaram Valdomiro a aceitar participar: dificuldades financeiras dos transplantados e o “deserto” de profissionais. “Não há, necessariamente, uma diferença da técnica, mas da condução do procedimento na condição sistêmica do paciente. Mesmo um procedimento simples como uma profilaxia em regiões infecciosas pode trazer complicações”, explica a docente, para quem a Atenção a Pacientes com Necessidades Especiais na Odontologia, considera, está em ascensão. “Vou oferecer um curso para dentistas da Prefeitura de Londrina. São 200 envolvidos, de todo o município.”
O Projeto Renais atende uma média de cinco pacientes por período e funciona das 13h30 às 16h. São atendidos pacientes de toda a 15ª Regional de Saúde, com prioridade para as urgências e emergências. Os pacientes vêm encaminhados do Hospital Santa Casa de Maringá, que atende pelo SUS no Setor de Nefrologia. No projeto, passam por um processo de avaliação para entrarem no tratamento.
Outro objetivo do projeto, um dos que move a professora em mais de 30 anos na área, é a conscientização dos doentes renais crônicos de que o cuidado com a saúde bucal é essencial. Isso porque esses problemas - cáries, mau hálito, alterações no paladar e principalmente infecções - estão interligados com a saúde dos rins do transplantado, já que ele não é um paciente com saúde regular. “Há casos de transplantados que perdem o rim por infecções na boca.”
O contato com o projeto foi o que levou a estudante do quinto ano de Odontologia Karolyn Santos de Luna a se interessar pela área. Ela, que é bolsista PIBIS, avalia que o projeto ajuda a construir uma mentalidade diferente para atender esses pacientes. “No projeto, com o convívio com os pacientes, aprendemos muito mais do que só odontologia. Na graduação, ainda que a disciplina seja ofertada, não se tem uma experiência completa por não ter o contato com pacientes com frequência. Nós ouvimos histórias que levamos para a vida”.
O Projeto Renais conta, além de Neli e Karolyn, com o professor Gustavo Jacobucci Farah (vice-coordenador), Luíza Sant'Anna Correa de Toledo e Maria Clara Barucci Araujo (residentes R2), Isadora Bitencourte Mariano e Victoria Regina Ferreira Pinto (residentes R1), as voluntárias Fernanda Morais e Vanessa da Silva Santos e os estudantes Luiz Henrique Tamura (5º ano), Vitória Moriya e Beatriz Biagi Truzzi (4º ano), Laura Marques Ferreira da Silva e Beatriz Cordeiro (3º ano). Integram e oferecem suporte ao projeto docentes de Nefrologia e Odontologia, das áreas de Estomatologia, Cirurgia, Radiologia, Patologia, Periodontia, Endodontia e Prótese da UEM.
(Willian Fusaro/Comunicação Hospital Universitário)