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Pesquisas da UEM projetam impactos e soluções para mudanças climáticas
Por Administrador
Publicado em 24/03/2025 11:19
Notícias de Maringá

Os desafios impostos pelas mudanças climáticas nunca foram tão discutidos e sentidos ao redor do mundo. À medida que eventos ambientais extremos se intensificam e a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) — prevista para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará — se aproxima, cresce a necessidade de ações eficazes para amenizar seus efeitos e construir um futuro sustentável.

A Universidade Estadual de Maringá (UEM) se destaca nesse panorama por meio de iniciativas científicas inovadoras, que avaliam impactos ambientais e oferecem ferramentas para a adaptação a novas condições climáticas.

O trabalho em rede desenvolvido pelo Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Emergência Climática (NAPI EC) é um exemplo. Com apoio do Governo do Estado — por meio das secretarias da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), do Desenvolvimento Sustentável (Sedest) e da Fundação Araucária — e da Itaipu Binacional, a iniciativa busca compreender os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade e desenvolver ferramentas para reduzir seus efeitos adversos no meio ambiente. O objetivo é auxiliar o Paraná no cumprimento de seus compromissos ambientais firmados no Protocolo de Kyoto e no Acordo de Paris.

Além das universidades estaduais do Paraná (UEM, Unespar, Unioeste, Unicentro e UEPG), a rede conta com a participação de universidades privadas e órgãos de pesquisa, como o Simepar e o Ceped-PR.

Na UEM, o NAPI EC é representado pela professora Dayani Bailly e do pós-doutorando Luíz Fernando Esser. Ambos trabalham em parceria com os professores Marcos Robalinho da UEL e Reginaldo Ré da UTFPR para desenvolver novas ferramentas inovadoras e que vem chamando a atenção internacionalmente.

Entre as inovações científicas destacadas pelo NAPI EC está o chooseGCM, um sistema inédito que aprimora a seleção de Modelos Gerais de Circulação Atmosférica (GCMs). Ele permite que cientistas escolham, de forma automatizada, os modelos climáticos mais representativos, reduzindo custos computacionais sem comprometer a precisão das previsões.

Essa tecnologia possibilita a obtenção de projeções climáticas mais precisas e acessíveis, fundamentais para embasar políticas públicas e estratégias de adaptação ao clima do futuro. O software preenche uma lacuna no campo científico ao ser compatível com os modelos mais recentes do Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP-6), um conjunto de modelos globais utilizado nas análises de mudanças climáticas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Além disso, adota uma nova metodologia baseada em níveis de aquecimento, em vez dos cenários de forçantes radiativas (RCPs), como no CMIP-5.

Outro avanço relevante do NAPI EC é o caretSDM, uma ferramenta de modelagem que cruza dados ambientais e informações sobre a ocorrência de espécies para prever mudanças em sua distribuição devido às alterações climáticas. 

Resultados

Durante a 1ª Conferência Paranaense de Mudanças Climáticas, realizada entre os dias 2 e 6 de dezembro de 2024, em Foz do Iguaçu, além de apresentar os dois softwares, os pesquisadores demonstraram como esses sistemas utilizam algoritmos avançados para analisar a distribuição de espécies icônicas do estado, como o pinheiro-do-paraná e a gralha-azul, além de diversas aves e peixes de água doce.

O objetivo é entender como seus habitats podem ser afetados pelo aquecimento global e projetar áreas de refúgio climático que protejam a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais ao equilíbrio ambiental.

As projeções indicam perdas significativas nos habitats naturais dessas espécies até o fim do século, o que pode comprometer serviços ecossistêmicos essenciais, como a polinização e a manutenção do equilíbrio das cadeias alimentares no Paraná.

Os impactos negativos das mudanças climáticas incluem a possível diminuição das áreas de distribuição da araucária e da gralha-azul, colocando em risco sua relação simbiótica e afetando a dispersão das sementes dessa espécie, fundamental para os ecossistemas do estado. Além disso, a expansão de pragas agrícolas e as alterações no habitat de peixes e aves também podem comprometer a biodiversidade e a economia do Paraná.

 

Soluções hídricas

O Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (NUPELIA), da UEM, também desempenha um papel fundamental nas pesquisas sobre os efeitos da crise climática. A partir da análise da biodiversidade dos rios do estado e da bacia do Paraná, os cientistas identificam padrões e tendências que orientam a implementação de políticas públicas para a preservação dos recursos hídricos.

O núcleo desenvolve estudos sobre a adaptação de peixes e outros organismos aquáticos às variações ambientais, permitindo a formulação de estratégias de conservação da biodiversidade.

Os pesquisadores do NUPELIA também têm se dedicado a identificar regiões do Paraná que podem funcionar como áreas de refúgio climático, essenciais para a preservação da fauna aquática diante dos desafios ambientais futuros. Esses esforços científicos contribuem diretamente para a sustentabilidade dos recursos hídricos e para a segurança alimentar da população. 

Contribuição social e reconhecimento internacional

A UEM se destaca em pesquisas por meio do Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), que busca contribuir para a preservação dos ecossistemas aquáticos e a conscientização da sociedade. Em parceria com o NUPELIA, o programa conduz estudos sobre a adaptação de peixes e outros organismos aquáticos às variações climáticas e desenvolve ações educativas, como a criação de cartilhas infantis para ampliar o conhecimento da população sobre a importância dos cursos d'água para os ecossistemas.

Outro estudo relevante do PEA/NUPELIA investiga os impactos das hidrelétricas sobre a fauna aquática, alertando para a necessidade de políticas ambientais que minimizem os efeitos das barragens e garantam a conservação da biodiversidade.

Os esforços da UEM no campo da pesquisa ambiental têm alcançado reconhecimento internacional. Pesquisadores da Bélgica, por exemplo, visitaram as iniciativas da instituição para troca de conhecimentos e possíveis colaborações científicas. Além disso, o PEA tem se destacado em eventos como o Congresso Brasileiro de Limnologia, fortalecendo a UEM como uma referência na área.

As pesquisas desenvolvidas pela UEM reforçam a importância da ciência no enfrentamento das mudanças climáticas e na busca por soluções inovadoras e sustentáveis. A recente adesão da universidade ao United Nations Academic Impact (UNAI) — iniciativa da ONU voltada à colaboração acadêmica global — ratifica ainda mais seu compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A contribuição da UEM ao tema, com uma atuação consistente na pesquisa, na proteção da biodiversidade, na preservação dos recursos hídricos, e em ações de educação e conscientização ambiental, a torna referência na busca por um futuro mais equilibrado. 

(Adriana Cardoso/Comunicação UEM)

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