Impedido de exportar, segmento enfrenta concorrência do produto importado da Argentina, Uruguai e até da Nova Zelândia; bacia leiteira perde espaço para cana, laranja e soja
Os principais problemas da pecuária leiteira, no Brasil, não estão ligados ao clima, especialização do produtor ou aos preços praticados pelas indústrias, mas à política e aos acordos internacionais assinados pelo governo federal, que permitem que leite de outros países seja vendido no território nacional e impedem que o produto nacional seja exportado.
A análise foi feita pelo presidente do Núcleo de Produtores de Leite da Região de Maringá, médico-veterinário e criador Ary Aladino Cândido, ao público participante do Encontro Regional dos Produtores de Leite. O evento foi
realizado nesta terça-feira (8), pela manhã, no Auditório “Luiz Antônio Penha”, localizado no Parque Internacional Francisco Feio Ribeiro, como parte integrante da programação da 46ª Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Maringá (Expoingá).
De acordo com Cândido, que produz uma média de 400 litros de leite, por dia, em uma propriedade de Nova Esperança, o Brasil firmou acordos comerciais com a Argentina, Uruguai e Paraguai para que máquinas, equipamentos e outros produtos sejam comercializados nestes países, mas a contrapartida é que outros produtos brasileiros não podem ser exportados, entre eles o leite.
“Não poder exportar, não é um problema grave. O grave é que estes países podem vender o leite para o Brasil e intensificam a entrada do produto, justamente, nos períodos de entressafra, quando os produtores brasileiros poderiam vender por um preço melhor”, destaca.
Cândido cita que Argentina e Uruguai não são grandes produtores e acabam “vendendo como seu” leite produzido na Europa e Nova Zelândia, que é transportado em pó para a América do Sul. O produto, segundo ele, entra no Brasil por valores que obrigam o produtor brasileiro a baixar o preço de seu leite.
O presidente do Núcleo, que está na Sociedade Rural desde a fundação da entidade, diz que, em consequência desta falta de incentivo ao produtor, a produção leiteira está reduzindo na região de Maringá. “Em 1981, quando foi criado o Núcleo, a produção regional era muito maior do que hoje, quase 40 anos depois”, afirma.
A bacia leiteira da região de Maringá era maior, mas tem perdido espaço para culturas como cana-de- açúcar, laranja, mandioca e, principalmente, soja e milho. “É comum sabermos que um produtor tradicional trocou a atividade por alguma cultura mais rentável e que dê menos trabalho, mas os poucos que continuam estão se especializando e, hoje, produzem leite com maior qualidade”, frisa.
Palestras
Cerca de 200 criadores de gado leiteiro de várias cidades da região participaram do Encontro Regional, realizado nesta segunda-feira, pela manhã.
O engenheiro agrônomo Mikael Neumann, com doutorado em Zootecnia e professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), fez uma palestra sobre como a nutrição pode influenciar a produção de leite.
O engenheiro agrônomo e zootecnista Joel Carneiro dos Santos Filho, coordenador regional do Projeto Leite, da Emater, falou sobre “Organização do trabalho em propriedades leiteiras”, tirando dúvidas dos produtores em
questões como legislação trabalhista, prevenção a acidentes de trabalho e meios para evitar o empobrecimento do solo e a desvalorização da propriedade.