Nove meninas de 12 a 14 anos entram em quadra de batom vermelho, para combinar com o uniforme, e com um sorriso contagiante no rosto, que exprime a felicidade por estarem nos Jogos Escolares da Juventude, em Natal (RN). Nesse momento, a timidez dá lugar à garra e ao desejo de superar novos desafios. Para Adriele Lima, Andreina Cardoso, Diana Correa, Juliana Oliveira, Luciele Fragoso, Maria Eduarda dos Santos, Maria Clara dos Santos, Maria Eloísa e Taynara Diamantina, jogadoras de futsal e alunas da Escola Municipal Ariston Carvalho de Mesquita, no município de Nina Rodrigues (MA), cada experiência na maior competição estudantil do país é uma grande novidade.
Pertencentes à comunidade quilombola Ilha, no Maranhão, as adolescentes nunca haviam atravessado as fronteiras do estado. Por isso, a classificação para a etapa Regional Azul foi um verdadeiro sonho.
Diferentemente das adversárias, as meninas quilombolas têm que enfrentar muitos obstáculos para treinar: elas saem de sua comunidade e atravessam um rio até chegar a um povoado com um pequeno campo de areia e três árvores no meio. Além disso, jogam descalças.
Nos Jogos Escolares da Juventude, elas receberam uniforme e tênis da Prefeitura de Nina Rodrigues para disputar a competição. Por outro lado, no momento mais especial de suas vidas, não contaram com a presença de seu treinador, Luiz Henrique Silva, que não viajou a Natal por não ter formação universitária. Com isso, há duas semanas, elas ganharam o reforço de outro treinador, Washington Augusto Sousa, professor de Educação Física de uma comunidade vizinha.
“É uma grande vitória para essas meninas. Intensificamos os treinos para que elas tenham um melhor desempenho. Independentemente dos resultados, o esporte é um agente transformador, capaz de promover a cidadania e o respeito entre elas. Quem sabe uma dessas jovens não recebe um convite para jogar em outro estado? O treinador delas, por exemplo, já conseguiu uma bolsa para fazer faculdade de Educação Física”, diz Washington.
As meninas contam também com uma espécie de “anjo da guarda”, a diretora da escola Maria Gorete Menezes, que percorre diariamente 12km de estrada para chegar à comunidade quilombola. Gorete e mais seis professores são responsáveis pelo ensino de 82 alunos, da educação infantil ao 9º ano do ensino médio.
“As famílias da comunidade são muito pobres, não têm emprego, e sobrevivem do Bolsa Família. Para ter uma renda, vivem do azeite, que extraem do coco. O esporte é uma contribuição para a educação destas jovens. Elas se surpreenderam quando se classificaram para os Jogos Escolares”, conta.
Em sua estreia na competição, a equipe goleou a Escola Patronato, do Piauí, por 4 a 0. Porém, na segunda partida da chave, acabaram derrotadas pelo Colégio Elo, de Pernambuco: 5 a 0. Com o resultado, a equipe não tem mais chances de classificação para a etapa nacional, em Blumenau (SC). Apesar do principal objetivo não ter sido cumprido, as meninas sabem que escreveram um dos capítulos mais bonitos da história dos Jogos Escolares e, em 2020, esperam que o enredo dessa saga seja ainda melhor. Torcida não vai faltar.
(Foto: Wander Roberto/COB)
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