A pandemia de covid-19 mudará em definitivo a vida nas cidades. A doença acelerou processos que já vinham se desenhando há anos, como o uso intensivo da internet nos negócios, o teletrabalho e o encolhimento dos escritórios. E nem mesmo a descoberta de uma vacina fará a sociedade voltar ao que era antes.
A análise é de especialistas em tecnologia e urbanismo, que discutirão o tema dentro do conceito de cidades inteligentes, no congresso Inovacity Digital, que será realizado nos dias 22 e 23 próximos, aberto a todos, por meio do Youtube, com inscrição gratuita na página do evento.
“Nós não seremos mais os mesmos, definitivamente. Teremos vários 'novos normais'. A nossa casa não vai ser mais como era. Nós vamos ter que redesenhar os espaços. Vamos trabalhar a partir de casa. Nós mudamos os nossos hábitos. O digital chegou de vez para ficar. Vamos ter que mudar o modelo de negócios, a forma de produção, que vai ser híbrida: físico e digital, presencial e a distância. A convivência desse modelo híbrido de gestão do negócio é o maior desafio que temos”, disse o engenheiro Claudio Marinho, especializado em planejamento urbano e economia do setor público.
Ex-secretário estadual de Tecnologia de Pernambuco, Claudio é um dos conferencistas do Inovacity e também um dos criadores do Porto Digital do Recife, um núcleo de tecnologia que hoje tem 340 empresas. Funciona no antigo cais do porto da cidade e gera, segundo ele, trabalho para 11 mil pessoas, com um faturamento anual de R$ 2,250 bilhões. Ele acredita que os centros históricos das cidades brasileiras passarão por um processo de transformação, acelerado por causa da covid-19, atraindo novos moradores, em um processo inverso ao verificado a partir dos anos 1970, quando os escritórios substituíram as residências.
Com o conceito de teletrabalho se mostrando bem-sucedido por causa da pandemia, muitas empresas decidiram reduzir ou até mesmo fechar os escritórios, como forma de reduzir custos, colocando seus funcionários para trabalhar de casa. Em sentido oposto, o mercado imobiliário já começa a planejar a transformação de prédios comerciais em residenciais, se aproveitando da infraestrutura de transporte, saneamento e telecomunicações que as áreas centrais das cidades já possuem.
Transformações
A tendência de mudanças também é apontada pelo advogado Vinícius Casales, organizador do Inovacity, especializado em gestão empresarial com foco em tecnologia. Segundo ele, as transformações que os espaços imobiliários vão sofrer nas áreas centrais das grandes cidades serão acelerados com a nova realidade trazida a partir da pandemia.
“Muitas empresas devolveram salas, andares inteiros, para colocar seus funcionários trabalhando dentro de casa. O que vai ser esse 'novo comum'? Vai levar um tempo, talvez um ano, para todo mundo voltar a trabalhar nos escritórios. Talvez em um modelo mais flexibilizado, fazendo trabalho a distância uma ou duas vezes por semana. Os estudantes também vão experimentar um modelo misto, de conteúdo online de casa e conteúdo presencial em sala de aula”, analisou Vinícius.
Segundo ele, a sociedade estará passando por uma grande fase de ajustes, o que demandará adaptações pessoais de cada um: “O momento que estamos vivendo é de desafio, de reconstrução de tudo. De mudança de cultura. Para entender que o trabalhador, o empregado, para que ele seja produtivo, não precisa estar sob o olhar do chefe. Ele consegue ser produtivo trabalhando de casa e ter qualidade de vida. Estamos em um momento de revisão e análise, transformação e ressignificação de sociedade”.
Programação
No primeiro dia, o encontro Inovacity Digital vai trazer cinco diferentes linhas de inovação, abrindo espaço para exposição de startups, que apresentarão soluções de negócios conectados com as cidades, entre produtos e serviços. O segundo dia reunirá especialistas e lideranças dos setores público e privado em seis painéis de debate: Urbanismo, Transformação Digital, Inclusão, Mobilidade e Gestão e Governança. O evento é gratuito, dirigido a os todos interessados, incluindo profissionais da área e estudantes universitários.
(Texto: Vladimir Platonow. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)