Participar de campeonatos com utilização obrigatória de motores sorteados fornecidos pela organização faz com que o fator “sorte” seja algo mais que um mero elemento na “receita” utilizada na busca dos bons resultados. Na verdade é, sim, um fator preponderante na influencia da balança do equilíbrio de forças entre os competidores.
E isso, é claro, nada tem a ver com a competência e seriedade dos fornecedores de motores para esses campeonatos. Sorte é sorte. E ponto final. Como na culinária os ingredientes que formam a receita do sucesso, ou do insucesso, devem estar devidamente ponderados e equilibrados. O chassis, coroas, mangas, cubos, rodas, carburadores, calibragem, barras, escapamento e até a equipe certa. Tudo tem seu peso e influência no sucesso da receita.
Ah, claro. Inclusive o piloto!
O último sábado (07/11) marcou a realização das baterias finais da Copa São Paulo Light de Kart, válidas como 8ª e 9ª etapas do disputado certame regional paulista. Três corridas para cada categoria em disputa, para definir e consagrar seus campeões da temporada 2020. Tudo isso sendo cozido no principal caldeirão de talentos do kartismo nacional, o Kartódromo Ayrton Senna – Interlagos, na Zona Sul da capital paulista.
Lá chegaram, no início da manhã, dezenas de “candidatos” ao título de suas classes. Cada um com sua “receita” pronta. Algumas simples, outras mais elaboradas, até com produtos importados. Vai do gosto (e do bolso) de cada gourmet da velocidade.
Voltemos então à “sorte” como ingrediente nessas receitas. Claro, todos haverão de convir que alguns já nascem com lá um tanto a mais de sorte que os cidadãos comuns. E também hão de convir que para um piloto de competição é muito bom contar com uma dose extra de sorte desde o berço. É tipo um “push” natural que o “driver” carrega consigo para cada corrida.
Bem, mas “sorte” não é um ingrediente qualquer, que se encontra de grande qualidade (e quantidade) em qualquer supermercado da vida. Tem dias que se consegue uma boa dose de sorte. Em outros, só se acha um “cheirinho”, que dê um pouco de aroma, de sabor às corridas.
E se, de fato, a deusa Fortuna sorriu em muitas oportunidades para o kartista paulistano Cadu Bonini (Avia Lubrisint/ Carlos Franco/ Russo Racing), lhe despejando na fronte boas doses de sorte, definitivamente não foi o que aconteceu na rodada final da Copa São Paulo Light de Kart.
Bonini chegou ao final do campeonato em forte ascensão na tabela de pontos. Vice-líder e único com reais possibilidades de arrebatar o título de campeão de Lucas Mendes, o líder do campeonato. Na sexta-feira aconteceu o sorteio dos motores e a tomada de tempos classificatórios, o “Qualy”, prática definidora do posicionamento dos bólidos na primeira das três corridas da etapa. Nos treinos cronometrados, que antecederam o Qualy, ficou claro que Cadu iria precisar de uma dose extra de sorte, posto que o propulsor recebido no sorteio – palavra derivada de “sorte”, substantivo, masculino, que de maneira impessoal, deixa por conta do acaso a escolha de algo a ser “sorteado” – tinha problemas e um desempenho aquém do esperado.
A empresa fornecedora de motores tentou sanar os problemas e equalizar aos demais o desempenho do motor. Mas nada deu certo. Faltou sorte e Cadu Bonini não conseguiu mais que a oitava posição no grid de largada. Para o sábado de corridas o propulsor defeituoso foi trocado pela empresa fornecedora de motores, mas não havia como se testar o novo propulsor e, de novo, Bonini tinha de contar com a sorte, para que fosse este um motor que lhe desse chance de conquistar bons resultados.
Infelizmente a receita, que já não estava boa, desandou de vez com o novo ingrediente. Cadu Bonini largou bem, lutou pela ponta da corrida nas primeiras voltas, mas seu kart foi perdendo rendimento e o “novo” motor não lhe permitia acompanhar os ponteiros da corrida. Com esforço conseguiu cruzar a linha de chegada na terceira posição.
Largando em terceiro, Bonini partiu com tudo e chegou até a liderar no início da segunda corrida. Ninguém conseguiu trazer sequer um punhado de sorte, para borrifar por cima do prato pouco saboroso que tinha e lá se foi outra corrida completada na terceira colocação.
A receita da veloz culinária agora requeria mais que sorte para a briga pelo campeonato. Dependia de falta de sorte para seu competente concorrente e, também, de uma boa dose de milagre para turbinar sua receita. Claro, isso geralmente só acontece na ficção e não na vida real. Cadu largou novamente muito bem, tentou acompanhar os lideres, mas acabou entrando, ainda, uma dose exagerada de pimenta em outra receita e a culinária desandou de vez. Cadu Bonini recolheu seu kart ao Parque Fechado, na oitava volta de corrida.
Esta época de 2020 tem sido um ano de mudanças e muito aprendizado para o jovem representante a Avia Lubrisint e Carlos Franco Imóveis. Após a consagração em 2019, quando conquistou o título de Campeão Brasileiro da categoria Junior Menor, Bonini foi promovido para a classe Junior e tinha como objetivo ser um bom “rookie” e conseguir aprender o máximo possível. Conseguiu mais que isso. Conseguiu se destacar, provando ser um piloto muito rápido e consistente. Trocou de equipe, passando a integrar o staff da Renato Russo Racing, um dos times mais importantes e laureados do país e a conquistar grandes resultados, que lhe permitiram lutar pelo título máximo da Junior, em seu ano de estreia.
Após os cálculos da organização do certame, Cadu Bonini (Avia Lubrisint/ Carlos Franco/ Russo Racing) fechou o campeonato na terceira colocação final.
"O Cadu se mostrou um piloto maduro. Chegou na equipe praticamente sem chances de título, mas com duas etapas disputadas subiu na tabela e chegamos na última disputando o título. É um piloto muito regular na tocada e muito constante, o que é raro hoje em dia”, Explicou o eneacampeão Renato Russo, team owner e coach de Cadu Bonini. “Agora é hora de focar no Brasileiro, pois temos total chance de título e vamos em busca dele”, concluiu o experiente dublê de piloto e preparador.
De micro-ondas na Fórmula E
Nesse próximo final de semana (13 e 14/11) acontece a edição 2020 do Campeonato Brasileiro de Rotax, mais uma vez tendo como pano de fundo o Kartódromo Granja Viana, em Cotia, região da Grande São Paulo.
Na verdade o evento será a própria cara de um ano pandêmico, de exceção, pois será, de fato, um “três em um”, já que valerá como evento único do Campeonato Brasileiro de Rotax, também como a 6ª etapa da Copa São Paulo de Kart Granja Viana e, ainda, como evento único da 500 Milhas de Kart Granja Viana, que neste ano será uma “versão simplificada”, com apenas seis horas, ou 500 quilômetros de percurso.
As categorias do internacional Rotax Max Challenge voltaram a ter relevância no Brasil, após a troca de comando, que agora é de Binho Carcasci, que dispensa qualquer apresentação após duas décadas adiante da Seletiva de Kart Petrobras.
O jovem kartista, de apenas 14 anos de idade, Cadu Bonini (Avia Lubrisint/ Carlos Franco/ Russo Racing), é um dos estreantes nesse Brasileiro de Rotax e está aproveitando os treinos livres oficiais para fazer seu rápido aprendizado nos segredos da condução de seu kart, agora equipado com o propulsor austríaco.
“Hoje ande pela primeira vez em um kart equipado com motor Rotax. Embora seja um motor dois tempos, como os Parilla de 125cc que usamos normalmente, suas características são bem diferentes e exigem uma adaptação à forma de pilotar. Mas, o que mais me impressionou, é o quanto esse motor é silencioso, o que acabou me dando a impressão que estava sentado ao lado de um aparelho de micro-ondas e andando na Formula E”, contou, galhofeiramente, o jovem kartista paulistano.
Na sexta-feira acontece a tomada de tempos classificatórios, para formação do grid de cada categoria e as baterias classificatórias. No sábado acontecem as Pré-Finais e Finais do Brasileiro de Rotax.
Os campeões de cada classe estarão classificados para as finais internacionais do Rotax Challenge International Trophy – aqui chamado de Mundial de Rotax -, que terá vem no mês de janeiro em Portimão, Portugal.
(Assessoria)