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Santos comemora 109 anos
14/04/2021 11:10 em Futebol

Gabriel Pierin do Centro de Memória

No dia 9 de abril de 1912, uma quinta-feira, os leitores do Diário de Santos compraram o jornal e foram surpreendidos pela notícia em destaque na seção de esportes:

Vários sportsmen desta cidade estão empenhados em organizar um poderoso club de football, tendo já para isso, conseguido um vasto e esplendido terreno de propriedade do sr. J.D. Martins, à rua Aguiar de Andrade, no Macuco, onde será instalado o ground da nova sociedade esportiva (…) No próximo domingo, às 2 horas da tarde, haverá uma reunião na sede do clube Concordia, para serem apresentadas as bases do novo clube, eleita a sua diretoria e tomadas outras deliberações atinentes aos fins da nova agremiação esportiva. Era já sensível a falta, entre nós, de um bom clube dedicado ao bello sport do football. Acreditamos que o novo clube venha preencher essa lacuna.

A notícia era animadora. Aquele grupo de jovens estava mesmo levando a sério a formação de um clube de futebol. Dias antes, Raymundo, Argemiro e Mario Ferraz, da comissão organizadora, percorreram o comércio da cidade em busca de sócios e apoiadores para o empreendimento.

De fato o futebol precisava ressurgir na cidade. Desde que o Internacional encerrara suas atividades e o Americano mudara-se para a capital, a bola quase parou de rolar em Santos. Muita gente sabia que era necessário ajudar na formação de um novo clube competitivo e organizado.

No dia 14 de abril de 1912, um domingo à tarde, dezenas de moços tomaram o mesmo bonde até a Praça do Rosário. O prédio do Club Concórdia, local escolhido para a reunião, ficava bem próximo. Eles dividiam os degraus da escada que levavam até o amplo salão da sede do clube.

A quantidade de jovens chamava a atenção. Alguns eram meninos. Entre eles, Arnaldo Augusto Millon, filho do Capitão Millon, tinha apenas 15 anos. Seu irmão, Adolpho Millon Junior, 16. Havia alguns rostos conhecidos, que já circulavam nos meios sociais, como Harold Cross, no alto dos seus 27 anos, um dos remanescentes do primeiro movimento futebolístico na cidade.

Jovens, estudantes e esportistas eram a maioria. Aos poucos, o salão foi enchendo. Trinta e nove pessoas se acomodavam no salão quando Raymundo Marques tomou a palavra.

Ele explicou a situação do futebol na cidade desde que o Internacional parou suas atividades e o Americano transferiu-se para São Paulo. Também falou sobre o desenvolvimento do esporte no interior e na capital.

A seguir, Raymundo disse que não pretendia concorrer à presidência. Ele entendia que a experiência lhe faltava. O rapaz disse ter conversado com Sizino Patusca e George Cox e sugeriu que a assembleia aceitasse suas indicações para presidente e vice-presidente, respectivamente. Os presentes bateram palmas e aprovaram a proposição.

Num tom mais descontraído, Raymundo lembrou aos presentes sobre a falta de um nome para o novo clube. “Os senhores confiaram na ideia e aprovaram a indicação do primeiro presidente, mas não temos nem o nome definido. Como este clube terá por princípio a democracia, deixarei que deem suas sugestões. O espaço está aberto”, provocou.

África, Brasil e Concórdia foram lembrados, mas não agradaram e acabaram rejeitados. Dar nome para um clube parecia tão difícil quanto escolher o nome de um filho. Foi quando Edmundo Jorge de Araújo, filho do conceituado Sóter de Araújo, teve a atenção voltada para si.

“Senhores! Vivemos em Santos. É a nossa cidade. Esse time vai representar a nossa gente, a nossa terra. Por que não Santos? Santos Foot-ball Club?”

Edmundo causou um burburinho. Do outro lado, Raymundo parecia convencido. “Vou colocar em votação”. As palmas se espalharam e tomaram conta do ambiente.

Estava fundado o Santos Foot-ball Club.

A segunda-feira acordou radiante. O futebol renascia na cidade. Antes do trabalho, leitores pararam nas lojas e bancas de revistas e jornais e disputaram os diários da cidade.

O jornal A Tribuna deu especial atenção ao neófito clube. Na seção de esportes estava lá, registrado para toda a eternidade:

Santos Football Club com o nome supra acaba de ser fundado nesta cidade, um clube de football destinado, por certo, a uma vida longa e plena de vitórias, para o que conta com os melhores elementos desta terra. Eis a sua primeira diretoria: Presidente, Sizino Patusca; Vice, George P. Cox; 1º Secretário, José Guilherme Martins; 2º, Raul Dantas; 1º Tesoureiro, Leonel Silva; 2º, Dario Ferraz da Frota. Diretores: Augusto Bulle, João Carlos de Mello, Henrique Tross, Raymundo Marques, Cícero F. de Lima Junior e Camyro Faeter.

Cores do novo clube: Branco e azul, com um friso amarelo entre as duas cores.

 

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