Tatiana Weston-Webb já vem liderando o crescimento do surfe feminino brasileiro há algum tempo e nos Jogos Olímpicos Paris 2024, escreveu o capítulo mais importante desta história. Brilhante como seu surfe, a brasileira tem agora a medalha de prata olímpica no peito. Uma medalha inédita e muito celebrada. É a primeira medalha olímpica de uma sufista brasileira na modalidade. Fruto de um trabalho de médio prazo que teve o Comitê Olímpico do Brasil (COB), em conjunto com a Confederação Brasileira de Surf (CBSurf), como protagonistas. Desde que o surfe entrou no Programa Olímpico, as entidades identificaram uma oportunidade de resultados e elaboraram, em 2018, um projeto específico para desenvolver o gênero feminino da modalidade, capitaneado por sua principal atleta, Tatiana Weston-Webb. Também fez parte deste projeto a então promessa Tainá Kinckel, que integrou o Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris. Agora, seis anos depois, a medalha olímpica em 2024 coroa esse trabalho, que contou com uma série de investimentos durante os últimos dois ciclos olímpicos. Na final, a brasileira foi derrotada a surfista dos Estados Unidos, Caroline Marks, em uma bateria acirrada, decidida na última onda.
“Toda esta estrutura oferecida mudou, literalmente, a minha vida inteira. Eu nunca tive uma preparação tão forte na minha carreira, especialmente esse ano, antes dos Jogos Olímpicos. E o lado psicológico também. Eu estou me sentindo super forte mentalmente. Uma atleta de alto nível precisa dessas coisas para sobreviver e eu estou sentindo que estou no topo da minha carreira agora. Estou mais mais forte. Estou conseguindo bons resultados. Só não está indo 100% pro meu lado, mas uma prata é muito boa. É um resultado incrível”, destacou a surfista prateada do Brasil.
Tati, que chegou à Teahupo´o, no Taiti credenciada como uma das favoritas ao título, comprovou seu talento e agora passa a integrar a seleta galeria de medalhistas olímpicos do Brasil. Mas, até a concretização deste resultado histórico, muito trabalho foi feito, com um planejamento bem elaborado e investimentos direcionados para oferecer todo o suporte na preparação da atleta. Foram diversas avaliações no Laboratório Olímpico do COB, no Rio de Janeiro, apoio para viagens e treinamentos internacionais, além da identificação de necessidades que não faziam parte do escopo de trabalho diário da atleta. Atualmente, por exemplo, profissionais do COB de nutrição, preparação física e psicologia atendem diretamente a surfista.
“Realmente, sem o apoio do Comitê Olímpico do Brasil e da CBSurf, não teríamos chegado perto deste lugar, no topo do mundo. Tem muitas pessoas no COB que eu considero agora como família, sabe? Então, eles agora fazem parte da história da minha carreira. Eu só tenho que agradecer a todos que fizeram parte disso. E também, não só lá, mas no mundo do surfe também. O Paulo Moura ajudou muito. Meu técnico Ross Williams também ajudou muito. E minha família sempre me apoiou desde o começo. Então, eu tenho que agradecer a todas as pessoas”, afirmou Tati.
Foi também com o apoio do COB e da CBSurf que Tati se preparou para os Jogos Olímpicos de 2024. A base de apoio montada em uma pousada a poucos metros da praia, com serviços de performance e privacidade, foi um grande diferencial competitivo. Foram feitos dois testes operacionais no local até a execução durante os Jogos Olímpicos. E Tati esteve em todos eles. Inclusive, foi a atleta quem indicou esse local para o COB. Ela conheceu o dono da pousada, Tahurai Henri, que também atua em resgates de jet ski no mar de Teahupoo´o, e sugeriu à entidade uma visita à instalação.
A caminhada de Tati até a medalha olímpica no Taiti também teve uma escala importante no Chile, em 2023. Lá, ela integrou a equipe nos Jogos Pan-americanos e, além do título da competição, teve uma pequena prévia da experiência olímpica e de representar o país em um evento multiesportivo.
“Foram dias bem puxados, mas além de puxados, foram dias abençoados. Especialmente porque eu acho que tivemos o melhor lugar para participar das Olimpíadas. E foi uma honra gigante representar o Brasil, o meu país.
E quase deu ouro, mas a prata é tudo. Esse é o momento mais alto da minha carreira que eu tenho certeza que vou alcançar. Mas é puro orgulho”, disse a atleta.
A medalha olímpica de Tati é também um momento marcante para o surfe feminino do país. Este é o principal resultado da história das mulheres na modalidade. Depois de ficar na sétima colocação dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Tati se manteve na elite do surfe durante o ciclo, sempre brigando no topo do ranking.
“Isso para mim é um sonho realizado. Eu nunca acreditei que o mundo do surfe teria essa chance. E quando teve, eu consegui”, observou.
Desde sua entrada no Circuito Mundial, já são quatro títulos de etapas, além de outras sete finais. Em 2024, apenas de ainda não ter vencido, foi no Taiti, em maio, que alcançou um feito histórico. Ela se tornou a primeira mulher a tirar uma nota 10 na mítica onda de Teahupo´o, na semifinal contra Vahine Fierro.
Tatiana Weston-Webb nasceu em Porto Alegre (RS), mas foi criada no Havaí. Filha de mãe brasileira e pai americano, tinha oito anos quando se apaixonou pelo surfe assistindo seu irmão mais velho pegar ondas. Nos primeiros anos de carreira, a surfista chegou a representar o Havaí em competições, mas em 2018, tendo em vista os Jogos Olímpicos, decidiu pelo lado brasileiro, país com que sempre manteve as raízes fincadas. Hoje, aos 28 anos, ela celebra essa decisão. E toda torcida verde e amarela comemora junto com ela a medalha olímpica para o Brasil.
(Texto: COB. Foto: William Lucas/COB)