Entre uma aula e outra, um estudante da Universidade Estadual de Maringá (UEM) faz uma pausa rápida no Restaurante Universitário (RU). No cardápio do dia, saladas de alface e tomate, mandioca como acompanhamento e banana na sobremesa. Qual caminho esses alimentos percorreram até as mesas do RU?
O trajeto da horta à bandeja começa não muito longe do próprio restaurante. Atualmente, a Cooperativa dos Produtores Familiares de Paiçandu (Coprofap) é a principal responsável pelo abastecimento ao RU. São 85 agricultores familiares cooperados, distribuídos pelo Noroeste paranaense. Entre frutas e hortaliças, quase 100 itens diferentes são fornecidos à UEM pela cooperativa.
A parceria entre a Coprofap e o RU, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal, é uma via de mão dupla. Ao passo em que alimenta a comunidade acadêmica da UEM com produtos saudáveis e de qualidade, gera renda para produtores familiares da região.
“O Restaurante Universitário cumpre um papel social dentro da UEM, fundamental para a permanência estudantil, e agora com o café da manhã e o jantar isso fica muito mais evidente. Mas também cumpre um papel social importantíssimo fora da UEM, porque contribui com a renda das famílias da agricultura familiar e com a economia regional no entorno de Maringá. São vários aspectos positivos, tanto sociais quanto econômicos”, afirmou a diretora de Assuntos Comunitários (DCT) da UEM, Adriana Aparecida Pinto, responsável pelo setor que administra o RU.
Fonte de renda e motivo de orgulho
Entre idas e vindas, Reginaldo Aparecido de Souza trabalha há 26 anos na mesma propriedade rural, no distrito de Água Boa, em Paiçandu-PR.
Antes caseiro, o agricultor de 47 anos hoje mantém a própria horta, ao lado da esposa e das duas filhas, em um hectare de terra arrendada. A área plantada, ainda menor, ocupa o espaço de meio campo de futebol. Mesmo assim, mais de 20 variedades de frutas, verduras e legumes são cultivados ali.
Salsinha, cebolinha, batata, batata-doce, repolho, couve, beterraba, tomate e banana estão entre os alimentos enviados por Souza à Coprofap, da qual é cooperado desde 2019. Parte da produção é destinada ao RU da UEM. “Entrar para cooperativa já trouxe um aumento na nossa renda familiar. E a entrega para a UEM também agrega mais produtividade e a garantia de que o produto vai ser vendido. A gente fica bem satisfeito”, afirmou o agricultor.
Assim como boa parte dos cooperados, Souza não usa agrotóxicos. A Coprofap tem incentivado os agricultores a aderirem ao modelo orgânico, mais saudável e menos agressivo ao meio ambiente.
O produtor Valter Andreotti Benati, de 54 anos, é um dos cooperados que se encontra na fase de conversão orgânica. Em busca da certificação, Benati usa apenas fertilizantes biológicos nos cultivo de mandioca, abacate e vassoura caipira. A primeira, considerada o carro-chefe do agricultor, abasteceu a cozinha do RU da UEM ao longo de todo o ano.
“Produzir para o Restaurante da UEM é muito gratificante. A gente até capricha mais, escolhe bem, tira todos os defeitos. Deixa como se fosse pra gente mesmo comer”, contou o produtor, que, junto da esposa, mantém seis hectares de terra em Água Boa.
No mesmo ano em que comprou o sítio, Benati ajudou a fundar a Coprofap. Em 2016, ele e demais agricultores familiares da região decidiram unir forças por meio do cooperativismo rural. “(Ser cooperado) ajuda muito na comercialização, porque bater de porta em porta não é fácil. Aqui, temos uma venda mais garantida e um valor agregado melhor”, explicou.
Hoje, a cooperativa já alcança produtores de 15 municípios da região, que garantem a comercialização quase integral dos alimentos cultivados. Cerca de 90% da produção dos cooperados é destinada a programas do governo federal, como o PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que atendem a escolas e entidades públicas.
Entre os 10% vendidos diretamente ao consumidor, estão alimentos in natura e produtos transformados pela própria cooperativa, como farofas, geleias e pimentas em conserva.
Na sede da Coprofap, também localizada em Água Boa, ainda há espaço para o mais recente investimento da empresa: a fábrica de fertilizantes biológicos, destinados aos cooperados que buscam a conversão orgânica - dois deles já são certificados.
“Nós produzimos os fertilizantes biológicos e repassamos para os cooperados, que pagam somente o valor de custo. Temos 12 produtores no processo de conversão, e acredito que eles consigam a certificação ainda neste ano. Começamos com a biofábrica em março deste ano, e isso está incentivando os produtores a aderirem ao sistema orgânico”, relatou a agricultora e presidente da Coprofap, Elizabete Borges.
Às terças e quintas, pela manhã, carregamentos de frutas e hortaliças deixam a sede da cooperativa e percorrem cerca de 25 km até o câmpus sede da UEM. Estudantes, servidores e a comunidade externa da Universidade se alimentam com comida saudável e de qualidade no RU. Para os cooperados, fonte de renda e motivo de orgulho.
“Para nós, é um prazer e um orgulho saber que estamos alimentando tantas pessoas”, resumiu a presidente da cooperativa. “É uma venda garantida, porque o agricultor sabe que pode produzir e que vai receber por esse produto. Para nós, é uma ajuda muito grande, um valor significativo que agrega na renda dos produtores”, acrescentou.
Alimentação saudável e assistência estudantil
Durante o período letivo, o RU da UEM serve quase três mil refeições diárias, de segunda a sexta-feira. São ofertados almoço, jantar e café da manhã - este último foi retomado em julho de 2024, após mais de dez anos de interrupção.
Além de ser espaço de convivência e integração da comunidade acadêmica, o Restaurante configura uma importante política de assistência estudantil e apoio aos estudantes em situação de vulnerabilidade social.
Em cumprimento à lei n° 11.947/2009, ao menos 30% dos alimentos comprados por instituições de ensino devem ser provenientes da agricultura familiar. No RU da UEM, o índice é superado com sobras, o que fortalece os pequenos produtores locais.
O restaurante também recebe hortifrutigranjeiros das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) e do Programa Alimentos Solidários e Agricultura Sustentável (Pasas), que integra a produção dos câmpus regionais e demais unidades produtivas da própria UEM, como a Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI).
Os ingredientes ajudam a manter o cardápio do restaurante saudável e variado. Além disso, permitem a oferta de opção vegetariana em todas as refeições, medida adotada em 2024.
Localizado no Bloco P01 do câmpus Maringá, em frente à Biblioteca Central (BCE), o RU da UEM funciona de segunda a sexta-feira, com atendimento ao público das 6h40 às 7h40, das 11h às 13h e das 18h às 19h30. Mais informações e o cardápio diário estão disponíveis no site do Restaurante.
(Vinicius Guerra Pereira Meira/Comunicação UEM)