A Universidade Estadual de Maringá (UEM) apresentou o projeto de aproveitamento de peles de peixes e demais espécies animais na feira Tecnomoda 2025, evento reconhecido como o maior da América Latina no segmento de couros e sintéticos. A feira, realizada nos dias 5 e 6 de fevereiro, reuniu expositores, pesquisadores, empresas e estudantes para apresentar novas técnicas, materiais e tendências, promovendo soluções criativas e ecológicas para o setor têxtil e de vestuário. A UEM foi a única universidade presente no evento.
Como convidada pelo promotor do evento, Ricardo Michaelsen, a UEM recebeu um estande mobiliado e equipado para apresentar os trabalhos do Grupo de Estudos em Produtos de Origem Animal (Gepoa), do Departamento de Zootecnia (DZO/UEM). Foram expostos couros de peixes (tilápia, pirarucu e pescada), peles curtidas com pelo (como as de coelhos de diversas cores e caprinos com diferentes agentes curtentes), couro de avestruz e retículo de bovino, além de produtos elaborados a partir dessas matérias-primas. Também foram demonstradas formas de aproveitamento de resíduos do curtimento, como o pelo removido da pele de coelho, que passa por processos de lavagem, tingimento e aromatização para a produção de fios utilizados em tecelagem. Outro destaque foi a obtenção e transformação das escamas de tilápia e pirarucu, que, após tingimento e aromatização, foram apresentadas em diferentes aplicações: as de tilápia, como sachês para aromatização de ambientes, especialmente armários e gavetas, além de peças decorativas; e as de pirarucu, utilizadas na confecção de flores e acessórios.
Segundo a professora Maria Luiza Rodrigues de Souza, do DZO, os couros de pirarucu foram atrativos no evento, pois apenas três curtumes apresentaram esse produto, cada um aplicando a sua referida técnica de curtimento e acabamento. Quanto aos couros de tilápia, apenas a Tilápia Leather - empresa especializada na produção de couro a partir da pele de tilápia e fundada por Amanda Hoch, zootecnista e ex-aluna da Universidade Estadual de Maringá (UEM) - estava presente com um estande, onde também constavam couros de tilápia e pirarucu e arraia.
No estande da UEM, foram apresentados couros pintados à mão, e o público pôde acompanhar uma pintura ao vivo, que foi filmada e exibida durante o evento. No estande da Tilápia Leather, estavam expostas mantas de couro de tilápia pintadas à mão e aromatizadas pela professora Maria Luiza. A convite da zootecnista Amanda, essas peças também foram apresentadas no Inspiramais, principal salão de inovação e design de materiais da América Latina para os setores de moda, calçados, confecções, móveis e bijuterias, realizado no final de janeiro, em Porto Alegre (RS).
Dentre os produtos expostos no evento, estavam estojos, nécessaires, bolsas, porta-cartões, carteiras, cintos, blazer, saias, jaquetas, tops, camisas com detalhes com couro, chinelos, calçados, as mantas de couro de tilápia com diferentes tipos de acabamento e pintura a mão. A professora Maria Luiza e a funcionária Ligia Alves, do Instituto de Línguas ILG da UEM, utilizaram os couros e escamas de peixes para produzir os acessórios sustentáveis apresentados no evento.
Sustentabilidade ambiental e econômica
Maria Luiza destaca ainda que o projeto de aproveitamento das peles de diferentes animais é uma forma de agregar valor à cadeia produtiva da espécie em questão. “As peles após o curtimento, sejam na forma de peleteria ou couro, tornam-se produtos resistentes e versáteis para diferentes aplicações. O couro de peixe, por exemplo, apresenta um padrão exótico devido às escamas, destacando-se no mercado, pelo lindo mosaico formado pelas lamélulas de proteção e inserção das escamas. Além disso, o aproveitamento das peles contribui para a sustentabilidade ambiental e econômica, reduzindo impactos e promovendo alternativas de renda nos diversos setores.”
Além das apresentações e demonstrações, durante o evento também foi distribuída a Revista Tecnicouro, que trouxe um artigo científico sobre couro de peixes assinado por pesquisadores da UEM: Maria Luiza Rodrigues de Souza, Stefania Caroline Claudino da Silva, Eliane Gasparino e Fernanda Losi Alves de Almeida. Intitulado “Qualidade de Resistência e Morfologia dos Couros de Pirarucu e Tilápia”, o estudo foi publicado a convite de Ricardo Michaelsen e foi o único artigo científico sobre couro de peixes presente nesta edição da revista. O convite se estendeu para a próxima edição, de número 348, prevista para maio/junho deste ano.
A figurinista Marília Carneiro, que trabalhou quase 50 anos na Rede Globo, foi uma das palestrantes na Tecnomoda 2025. “Em visita ao estande da UEM, Marília ficou admirada com as grandes possibilidades com os couros de peixes”, conta a professora.
Para Maria Luiza, a UEM esteve presente na Tecnomoda devido a grande visibilidade do trabalho que está sendo realizado, desde o curtimento das peles até às grandes passarelas da moda. Estes pequenos couros de peixes saíram do laboratório da Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI) para as passarelas dos desfiles Fashion Week de São Paulo e Santa Catarina.
Além das pesquisas realizadas na UEM na área de peles, que avaliam a resistência dos couros por meio de análises histológicas, microscopia eletrônica de varredura e quantificação de fibras colágenas (técnicas que revelam toda a arquitetura histológica envolvida na determinação da resistência à tração, rasgamento progressivo e elasticidade), os couros, antes restritos às pesquisas, agora ganham espaço nas passarelas da moda.
Os couros de pirarucu processados no Laboratório da UEM com parceria da Amanda Hoch, da Tilápia Leather, também serão apresentados, de 23 a 25 de abril, nas passarelas do desfile de moda que ocorrerá no evento IFC Amazônia 2025 (International Fish Congress & fish Expo Brasil), contando com grandes estilistas da moda.
(Marilayde Costa/Comunicação UEM)