Dona Maria Estela da Silva salvou até 360 vidas nos últimos 30 anos. Os números, que poderiam provocar inveja até em super-herois, são ostentados com orgulho pela funcionária aposentada da Copel de Maringá. Maria Estela doou sangue pela última vez na última terça (10), no Hemocentro da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e encerrou uma trajetória de quase 30 anos de contribuição com o próximo, seja ele qual for, de um parente próximo a um desconhecido. Ela doou pela primeira vez “há 28 ou 29 anos”, para ajudar uma prima que havia retirado o útero. Desde então, nunca mais parou.
As doações de uma pessoa podem salvar até quatro vidas - por isso, Maria Estela salvou , por baixo, 360 delas. Isso porque, com a doação de sangue total, o banco de sangue, ao processar a bolsa, consegue produzir quatro hemocomponentes diferentes (concentrado de hemácias, plaquetas, plasma e criopreciptado), beneficiando até quatro pacientes diferentes.
A agora “ex-doadora” completa 70 anos no dia 13 de julho deste ano, idade em que os doadores não podem mais contribuir. No entanto, depois de tanto tempo doando cotidianamente - “duas ou três vezes por ano”, como ela mesmo afirma -, ela saiu do Hemocentro da UEM na última terça com a sensação de dever cumprido, além dos olhos marejados. “Eles fizeram uma despedida, me deram camisetas e uns presentinhos. Eu até chorei”, conta, emocionada.
Nessas últimas três décadas, Maria Estela sequer foi barrada na triagem das doações - devido às exigências e protocolos, há uma triagem para selecionar os doadores de sangue interessados em contribuir. Ela vê com alegria, também, a chegada do Dia Mundial do Doador de Sangue, 14 de junho, uma função que executou com maestria e pontualidade por décadas. “Minha missão já fiz, agora passo a bola para os próximos”.
E passou mesmo, inclusive na família. A doadora assídua, de tanto comentar, levou uma outra prima de Maringá à doação, provando que a solidariedade também pode estar no sangue. O ato de Maria Estela, inclusive, não é tão comum: ela começou a doar como uma doadora de reposição e tornou-se, a partir daí, uma doadora de repetição. “Doei algumas outras vezes também para colegas de trabalho que estavam precisando”, emenda.
Mesmo doando sangue por tantos anos, Maria Estela “morre de medo” de procedimentos médicos, agulhas e anestesias. “Quando vou ao dentista, não gosto nem de ver, mas para doar sangue nunca tive problemas. Isso é curioso, aliás. Acho que tudo tem um propósito na vida, e o meu deve ter sido este, de colaborar. Eu acredito muito em Deus”, emenda.
A agora ex-doadora atenta para os cuidados pré e pós doação. “Tem que beber bastante água e descansar. Uma vez, não me lembro há quanto tempo, mas faz bastante tempo, eu doei e na mesma noite fui num baile. Passei mal, não consegui ficar ali”, lembra, aos risos.
Moradora do Jardim Itália, Dona Maria Estela faz aulas de libras para “ocupar a cabeça” após a aposentadoria. No ano passado, fez aulas de xadrez, algo que já queria há algum tempo, para aprender a jogar e também se distrair. “Tenho uma filha, enfermeira formada pela UEM, que mora em Ponta Grossa. Já doei sangue lá também, mas prefiro o Hemocentro daqui (de Maringá). Do atendimento à moça que serve o lanchinho, gosto muito de todos.”
Profissão doador
Segundo o diretor do Hemocentro da UEM, Gerson Zanusso Jr., a doação regular é muito valiosa para a manutenção dos estoques de sangue. “No dia-a-dia, para a manutenção do estoque e para redução do índice de inaptidão, nós observamos que os doadores regulares tem menor índice de inaptidão”, avalia.
O homem pode doar até quatro vezes ao ano e a mulher, até três vezes ao ano. “Trabalhamos, nos bancos de sangue, que a maioria seja de doadores de reposição, pois isso deixa os estoques sempre estáveis. Isso estabelece uma cultura da doação de sangue, que é de necessidade diária, para a manutenção de todos os tipos de bolsa, independente da sua finalidade. No caso desta doadora, ela se tornou uma doadora de repetição, o que é muito valioso para nós”, ressalta.
Junho Vermelho
O Hemocentro da UEM participa da campanha “Doe sangue, doe vida” no Junho Vermelho, do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) e da Secretaria de Estado da Saúde (SESA/PR). Desde o início do mês, o Hemocentro de Maringá, assim como outras unidades do estado, vem recebendo doadores com uma série de atividades, como servir um lanche diferenciado em um ambiente ainda mais acolhedor, decorado especialmente para a data.
Todas as 23 unidades conveniadas com o Hemepar integram a campanha, que se encerra no dia 30 de junho. Para doar, basta vir pessoalmente ao Hemocentro e aguardar o momento da doação, que só é autorizada após uma triagem, ou agendar pelo site da SESA.
Neste dia 14, o Hemocentro da UEM prepara uma recepção ainda mais especial. “Vamos distribuir 85 senhas para doação, com atendimento das 7h às 12h30, por ordem de chegada. O ambiente está bem decorado e teremos o lanchinho especial para o doador”, confirma o diretor do Hemocentro.
Os bancos do Paraná distribuem hemocomponentes para 384 hospitais públicos, filantrópicos ou privados de todo o Estado. Atualmente, a Hemorrede atende 95,6% dos leitos do SUS no Paraná.
Quem pode doar?
Para doar sangue, é necessário ter entre 16 e 69 anos completos. Menores de idade necessitam de autorização e presença do responsável legal. Os homens podem doar a cada dois meses, quatro vezes ao ano. As mulheres, a cada três meses, num total de três doações ao ano.
O doador deve pesar no mínimo 50 kg, estar descansado, alimentado e hidratado (evitar alimentação gordurosa nas quatro horas que antecedem a doação) e apresentar documento oficial com foto (carteira de identidade, carteira do conselho profissional, carteira de trabalho, passaporte ou carteira nacional de habilitação).
Serviço
Campanha “Doe sangue, doe vida”, do Hemepar.
Localização em Maringá: Hemocentro Regional de Maringá.
Endereço: Avenida Mandacaru, 1600.
Telefone: (44) 3011-9400 ou (44) 3011-9495.
(Texto: Willian Fusaro/Comunicação Hospital Universitário)