Pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) desenvolveram desinfetantes e higienizantes naturais para o processo de ordenha de vacas, capazes de reduzir contaminações sem deixar resíduos no leite e sem favorecer resistência bacteriana. As soluções elevam a qualidade e a segurança da produção, beneficiando produtores, indústria e consumidores.
O trabalho é coordenado pela professora Magali Soares dos Santos Pozza, do Departamento de Zootecnia (DZO/UEM), especialista em qualidade microbiológica de alimentos de origem animal. Há 25 anos, ela estuda os efeitos do leite e seus derivados na saúde humana e afirma que muitos mitos circulam sobre o alimento, especialmente relacionados à gordura.
“A gordura do leite hoje em dia não é mais a vilã. A membrana que envolve o glóbulo de gordura tem funções importantes, como o efeito prebiótico, que serve de nutriente para as bactérias benéficas do intestino”, explica Magali. Ela reforça que o leite é altamente nutritivo: “É uma gordura boa, rica em aminoácidos essenciais, cálcio, vitaminas e sais minerais, contribuindo para dentes, ossos, funções cognitivas, hidratação e saciedade, ajudando a controlar o peso”.
A pesquisadora cita também que estudos relacionam compostos presentes em ruminantes ao efeito protetor contra doenças. O ácido linoléico conjugado, encontrado somente em produtos de ruminantes, por exemplo, é conhecido pela prevenção de câncer de mama e de útero.
Consumo diário
O Guia Alimentar do Ministério da Saúde recomenda consumir três porções de leite ou derivados por dia. Cada porção equivale a 200 a 300 mililitros, o que corresponde a um copo de leite, um pote de iogurte ou duas fatias de queijo.
Somadas as três porções, são cerca de um litro por dia, que fornece 35 gramas de proteína — mais da metade da quantidade indicada, por exemplo, para uma pessoa de 70 quilos sedentária. Alérgicos devem evitar produtos com leite.
A nutricionista Angela Buzzo alerta que os lácteos, embora relevantes na alimentação, devem integrar uma dieta equilibrada, e não serem utilizados como única fonte de nutrientes. “O leite é muito versátil e indicado, mas precisa estar inserido em uma alimentação balanceada. Ele pode se tornar inflamatório se combinado com uma dieta pobre em fibras e rica em ultraprocessados.”.
Processos térmicos e qualidade
O leite comercializado no Brasil pode ser UHT (o “leite de caixinha”), pasteurizado (vendido em saquinhos) ou cru. Enquanto os dois primeiros passam por tratamentos térmicos que preservam a qualidade e reduzem micro-organismos, o leite cru não recebe aquecimento e apresenta maior risco de contaminação.
Além disso, o leite que passa apenas por fervura doméstica “sofre muito mais perdas de vitaminas, porque o aquecimento demora. Na indústria, é tudo muito rápido: aquece e resfria rapidamente, e a embalagem ainda protege da foto-oxidação”, relata a professora Magali Pozza.
Para Magali, todas as categorias podem ser seguras, desde que tenham boa procedência. Sem higiene adequada na ordenha e no manejo, o leite pode conter resíduos de antibióticos e bactérias causadoras de doenças como listeriose, brucelose e tuberculose, além de problemas gastrointestinais comuns.
Higienização natural
Com foco na segurança alimentar, o Grupo de Estudos em Qualidade de Alimentos desenvolve produtos naturais para a limpeza de tetos de vacas, tubulações, tanques de expansão e outros equipamentos usados na produção leiteira. Esses higienizantes passam primeiro por testes laboratoriais e, depois, por experimentos com o rebanho da Fazenda Experimental de Iguatemi (FEI/UEM).
Os produtos evitam resíduos no leite e ajudam a controlar bactérias resistentes, inclusive aquelas capazes de sobreviver à pasteurização. A pesquisa também conta com parcerias com pequenos produtores e laticínios da região, ampliando o impacto na cadeia produtiva.
Além dos higienizantes, o grupo atua no aprimoramento de derivados lácteos, como queijos e iogurtes. Entre os trabalhos desenvolvidos estão revestimentos naturais para queijos, filmes com compostos bioativos e formulações diferenciadas para melhorar sabor, textura, maturação e valor nutricional.
As pesquisas incluem ainda a análise de amostras de leite de laticínios parceiros, permitindo monitorar composição, possíveis fraudes e conformidade com parâmetros legais. Os resultados ajudam os estabelecimentos a aprimorar processos, garantindo que o leite destinado ao beneficiamento industrial atenda aos padrões de qualidade e segurança.
Com avanços tanto no controle microbiológico quanto no desenvolvimento de novas tecnologias de higienização, as pesquisas da UEM fortalecem a cadeia leiteira regional e contribuem para uma produção mais segura, saudável e sustentável.
(Adriana Cardoso/Comunicação UEM)