O rádio brasileiro consolidou-se, ao longo do século 20, como um dos meios de comunicação mais decisivos na formação cultural e informativa do país. Em um território de dimensões continentais, foi ele quem encurtou distâncias, conectou regiões e construiu identidades. Embora a chegada de novas tecnologias tenha transformado profundamente os hábitos de consumo de mídia, ele permaneceu como um dos formatos mais confiáveis e afetivos para a população até os dias atuais.
Há quem possa dizer que com a chegada das redes sociais digitais, o rádio perdeu relevância. Contudo, dados da Kantar IBOPE Media, divulgados em setembro de 2023, apontam o contrário. De acordo com a pesquisa, 80% dos brasileiros ainda escutam rádio regularmente. E mais, 64% dos entrevistados o consideram como o meio de comunicação mais confiável entre todos. O rádio soube se adaptar, adotando plataformas digitais, ampliando acesso e preservando características essenciais como a agilidade, a oralidade e a capacidade de criar sentimento de comunidade.
Nesse ecossistema, as rádios universitárias ocupam um espaço particular. São emissoras que, por estarem vinculadas a instituições públicas de ensino, têm a missão de democratizar a comunicação, oferecer conteúdo científico, cultural e educativo, além de servir como laboratórios de formação profissional. São veículos que fogem às lógicas estritamente comerciais do mercado radiofônico, permitindo narrativas que dificilmente encontrariam espaço na programação tradicional. E é justamente nesse contexto que está a UEM FM 106,9, emissora educativa da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que neste mês de dezembro celebra mais um ano de uma trajetória marcada por desafios, inovação, compromisso público e resistência.
O reitor Leandro Vanalli destaca a importância da rádio UEM FM. “Num mundo cada vez mais midiático, a informação ganha novos formatos para que se alcance os diferentes públicos de interesse, e assim, precisamos pensar nos novos desafios da convergência e da transmídia no meio rádio. Não somos mais apenas uma frequência no dial, nossos conteúdos estão migrando para o streaming, podcasts, plataformas de vídeo e redes sociais, alcançando novas gerações e públicos. Assim, completamos 29 anos, pensando no futuro, mas nunca deixando de ser um dos pilares da nossa instituição, que é um espaço de liberdade, conhecimento e diálogo”, ressalta.
“Chega de saudade”
A história da UEM FM começou em 1996, quando a universidade obteve a autorização para operar na frequência 106,9 MHz. A estrutura inicial era modesta, o estúdio funcionava na garagem da Reitoria, adaptada às pressas para receber mesa de som, microfones e um transmissor de 250 watts. Os equipamentos eram fruto de doações, empréstimos e improviso. Discos de vinil, CDs e até móveis chegaram à emissora trazidos pelas mãos de professores, técnicos e estudantes que acreditavam no peso da UEM ter uma rádio para chamar de sua.
Apesar das limitações, o entusiasmo de colocar uma rádio pública no ar era maior que qualquer obstáculo técnico. O calendário marcava: 4 de dezembro de 1996. Pelas ondas da 106,9 MHz a Rádio Universitária chegava para conquistar os corações dos maringaenses. Pela voz de Nilson Fidelis, o primeiro locutor, a abertura ficou por conta da canção “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A escolha da canção ícone da Bossa Nova foi decisão do primeiro programador, Paulo Petrini, grande pesquisador da música instrumental e do jazz no Paraná.
Modernização, digitalização e expansão de alcance
A história da rádio também é marcada pela modernização. Nos primeiros anos, os programas eram operados manualmente, com discos de vinil e CDs. Com o tempo, a emissora incorporou tecnologia digital, softwares de automação e migrou parte da programação para formatos online. A transição para o streaming representou um salto importante, isso porque a rádio passou a alcançar ouvintes que já não dependiam da transmissão FM, ampliando o público para além dos limites geográficos de Maringá.
Hoje, a UEM FM opera 24 horas por dia e combina produção jornalística, programas culturais, debates, gêneros musicais variados e transmissões especiais. A presença multiplataforma da emissora nos tocadores digitais, redes sociais e site reforça sua relevância no cotidiano que ultrapassa os muros da universidade. Com ondas que alcançam um raio de 100 quilômetros a UEM FM alcança a vida de ouvintes todos os dias em diferentes momentos da vida.
O papel formador: laboratório de jornalismo, cultura e cidadania
Mais do que instrumento de comunicação, a UEM FM tornou-se um espaço pedagógico essencial para a universidade. Ao longo de quase três décadas, dezenas de estudantes passaram pela emissora, vivenciando na prática o aprendizado em jornalismo, locução, produção sonora, operação técnica e gestão cultural.
Exemplo disso, é a acadêmica do curso de Comunicação e Multimeios da UEM, Naylla Jully Escodiero Silva, que estagia na emissora desde os primeiros anos da graduação. Para ela, este é “um ambiente onde posso expressar minha criatividade e crescer profissionalmente”, conta.
“Me desenvolvi muito como pessoa e vivi experiências incríveis que só uma rádio universitária como a UEM FM poderia me proporcionar. Tive contato com profissionais muito experientes e muito dispostos a ensinar, acredito que estar aqui mudou minha forma de ver o rádio”, comemora Naylla que ajuda a manter o contato com os ouvintes pelas redes sociais da rádio.
A rádio também funciona como um espaço de extensão universitária, dando voz a pesquisadores, projetos de ensino, iniciativas comunitárias, movimentos culturais e atividades acadêmicas.
Pluralidade editorial e compromisso social
A programação acolhe entrevistas, debates, boletins informativos e produções especiais que aproximam ciência e sociedade. Dessa forma, a UEM FM cumpre a missão que fundamenta toda rádio universitária: articular ensino, pesquisa e extensão num serviço público de comunicação.
A valorização da música brasileira, que vai do popular ao independente, o incentivo à cena cultural local e a abertura para produções experimentais fazem parte da identidade da rádio.
O jornalismo da UEM FM também se diferencia pela pluralidade de espaços e pela abordagem comunitária. As coberturas priorizam temas que impactam a vida da comunidade interna e externa fortalecendo a comunicação pública como instrumento de cidadania. A rádio exerce seu papel como voz que conecta a universidade ao cotidiano da cidade e da região.
Resistir para existir: a UEM FM como símbolo de comunicação pública
Em quase 30 anos, a UEM FM construiu uma trajetória que combina memória, serviço e resistência. Resistência frente às transformações tecnológicas e às demandas de um ecossistema comunicacional em constante mutação.
A emissora resiste porque seu propósito transcende outras barreiras, ela cumpre função social. Em cada edição de jornal, em cada programa cultural, em cada programação cuidadosamente selecionada, a UEM FM reitera seu compromisso com a democratização da comunicação e com a promoção da educação e da cultura.
Um aniversário que celebra passado, presente e futuro
Ao celebrar mais um ano no ar, a UEM FM reafirma sua importância para a Universidade Estadual de Maringá e para a comunidade regional. Neste mês, celebramos as pessoas que construíram e constroem todos os dias a 106,9.
E, acima de tudo, celebra a própria sobrevivência, em um país onde a comunicação pública nem sempre recebe os recursos e a valorização que merece, continuar existindo é, por si só, um ato de resistência.
A Rádio UEM FM é um setor ligado diretamente à Assessoria de Comunicação da UEM, juntamente com a UEM TV, e as Redes Sociais, compõem a estrutura de canais de comunicação da instituição. Os profissionais envolvidos na estrutura da rádio são:
Assessor de Comunicação da UEM
Lúcio Olivo Rosas
Coordenador da Rádio UEM FM
Marcelo Henrique Gardioli
Jornalistas Colaborativos
Equipe ASC: Marcelo Bulgarelli, Adriana Cardoso, Mônica Chagas, Valéria Quaglio e Elias Gomes.
Produção Musical
Susana Castro
Locutores
Rosendo Nogueira e Elias Gomes
Técnicos de Áudio
Everton Vieira, Francisco Lopes Alves, Fernando Sinfroni e Ademir Souza
Estagiária
Naylla Jully Escodiero Silva
A UEM FM segue no ar. Segue cumprindo sua missão. Segue resistindo. E, enquanto houver vozes dispostas a contar histórias, música para compartilhar, comunidade para dialogar e ouvintes para ouvir, seguirá sendo um dos mais importantes patrimônios culturais e comunicacionais da universidade e de Maringá.
(João Luiz Lazaretti/Comunicação UEM)